quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Um papel, uma caneta e outras coisas


          Ela costumava escrever sobre o amor mais do que qualquer outro assunto. Se fosse pra ser sinsero, eu ousaria dizer que ela escrevia sobre amor mais do que fazia qualquer outra coisa. E se me for permitida um pouco mais de sinceridade, eu diria que aqueles cabelos vermelhos demais que se derramavam pelas páginas de caderno que ela tanto escrevia me deixavam intimidado. Talvez não mais do que aqueles olhos que pareciam ver não só através dos óculos de aro grosso, mas através de qualquer  ação de qualquer pessoa que atravessava a sua vista. E eu tinha vontade de dizer que além de meio assustadores, os seus olhos eram os mais belos que eu já tinha visto, mas eu tinha um medo infinito de que no outro dia, o texto no seu blog fosse sobre mim, e embora só nós dois fossemos saber disso, esse não era o tipo de segredo que eu queria compartilhar com ela.
          Eu me perguntava todos os dias quantos amores ela teria vivido, quantos daqueles textos se referiam à mesma pessoa, quantos deles eram pura fantasia. Não podia ser grande parcela, pois cada palavra parecia ter sido derramada de verdade e de sentimento, e eu odiava admitir (ainda que apenas para mim), mas aquilo me enchia de um ciúme e de uma pequenês que eu, que não sou muito bom com as palavras, não sei expressar. Eu tinha certeza que eu, em minha inexperiência, não seria de forma nenhuma aquele que ia domar o coração que tantas vezes havia sido tomado.
          E eu já estava mais do que obstinado a me dar por vencido e esquecer qualquer possibilidade de chegar as perto daqueles cabelos vermelhos, até que ela foi mais rápida que eu, com aqueles olhos que veem mais que o permitido, ela me viu através de minha distância  de segurança e principalmente através do que eu achava ser um disfarce. Nesse dia ela postou no seu blog um texto que não era assinado por ela, mas por Oscar Wilde, e dizia: "O mal poeta vive a poesia que ele não sabe escrever, e o bom poeta escreve a poesia do que ele não é capaz de viver". Eu tive medo de estar viajando, mas eu estava achando que aquele era um sinal de que era comigo que ela queria viver a poesia que ela tanto escrevia, mas nunca chegou a viver.E era!





--Luana Rôla

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