Querido Outono,
Eu
bem sei (e você também) que não nasceu de mim a ideia de te enviar cartas, mas eu me perguntei bastante que mal faria te dizer algumas palavras e
cheguei à conclusão que não há mal algum, podes simplesmente escolher não me
ouvir.
Mas
eu sinceramente gostaria que me ouvisse, pois é minha primeira vez em sua companhia
e talvez você gostasse de saber as novidades que você me traz. Você é mais ou
menos como nos filmes, sabe? Provavelmente, te olhando assim de pertinho, e com
meus pés ensopados de chuva, você tenha um ar um pouco menos romântico, mas
acho que há algo sobre as folhas laranjas no chão e sobre o vento que bagunça
mais ainda meus cachos que te trazem um ar de filme antigo que me alegra estar
no elenco.
Parece
bobagem, mas é engraçado descobrir que um cachecol é mais que um enfeite, e sim
uma proteção contra seus sopros nervosos, ou descobrir quanta alegria há em fechar e sacodir o
guarda-chuva, entrar numa cafeteria quentinha e pedir o café preferido. O
grande valor que eu percebi em você, Outono, não é o frio que eu desconhecia,
mas os pequenos gestos que esquentam o corpo e o coração.
Provavelmente,
entre tanta gente, você não tenha prestado atenção em mim, mas ainda assim queria que soubesse que ao mesmo tempo
que eu estou te conhecendo e me acostumando contigo, também me acostumo comigo
enquanto estou vivendo uma grande mudança e estou criando novos hábitos. E
ainda que às vezes eu tenha dúvidas e pense que esse frio só faz aumentar
outros frios que sinto por dentro, você traz algumas outras surpresas que me
ajudam a relevar e balancear algumas questões que tenho. Não, não estou dizendo
que você trouxe só para mim os esquilos felizes do parque ou os artistas de rua
que cantam a música certa, só estou dizendo que esses pequenos gestos me
alegram de forma particular, como um presente pessoal, ainda que não o seja.
Desculpa,
Outono, talvez eu tenha sido sentimental demais, tenha me exposto demais, mas deve ser um resultado desse sentimento de filme antigo que eu disse que você
trazia. Espero ansiosamente por mais surpresas (sem pressão), e sei que te vejo
amanhã, então,
Até
logo!
Ps: Esse texto foi inspirado pela série de vídeos da Carrie Hope Fletcher e vale muito à pena acompanhar (é só clicar aqui)!
Bisous!